histórico do filme

um pouco da caminhada até aqui

                O nascimento da idéia de realizar "O pequeno" aconteceu lá em 2008, quando nem pensava em ter uma câmera ou qualquer equipamento de realização cinematográfica. Fagulhou a idéia em um dia de caminhada com um amigo, numa quase ladeira, rascunhei por um tempo em vários papéis e depois - sem nem entender direito a linguagem técnica pra isso - formatei os textos dispersos em um roteiro, que fui timidamente apresentando aos amigos e, fluidamente, foi ganhando consistência a idéia de realizar.
               O plano era criar um filme com um grupo de pessoas que se interessassem em participar por causa do encantamento da idéia, sem envolver qualquer pagamento em dinheiro, e que - ao invés - envolvesse pessoas que apoiariam o filme doando seu tempo, saber e suor, o filme teria que custar muito pouco, pois a idéia era realizar um filme completamente independente de editais e patrocínios (e assim foi até hoje, uma alongada história de muito trabalho e doação..., não sei se é a melhor maneira, mas "O pequeno" foi assim).


                Comecei a convidar alguns amigos mesmo para compor a equipe técnica e de atores, mesmo sem nenhum deles ter experiência quase nenhuma na área. Depois fui me aproximando de uns atores do grupo do Teatro do Oprimido de Londrina (Fábrica do Teatro do Oprimido) e foi ali que conheci o João, ator que assumiu ser o "pequeno" com tanta intensidade que me fez ter de levar o projeto de realização até o fim. Tivemos vários empecilhos, problemas, pausas, quase desistências e não abandonei definitivamente o projeto somente por causa dos amigos que já tinham se envolvido e se doado tanto pr'aquela idéia que chegou um ponto em que eu não tinha essa "escolha", principalmente por causa do João. Sempre que lembrava dele ou quando algum dos colaboradores me cruzava ou até quando via um cacto pelos caminhos me batia a angústia de ter esse filme parado no meio do caminho. Várias forças tiveram de ser realimentadas, principalmente pelo novo fôlego de empolgação trazido pelo Biu e pela Edilene quando se encantaram pela idéia e assumiram a produção. Entre uma pausa e outra fomos recomeçar a filmar somente em 2011, lá em Rolândia, e por lá e por aqui e por todas as pessoas que foram colaborando pela idéia pelo caminho, o filme ficou sendo aguardado. E está pronto.


          Uma filme que talvez já nasça antigo. Todos sabemos, eu sei, que o rapaz que rascunhou o roteiro no fundo da casa dele em 2008 já não sente o mundo em 2016 com os mesmos sentimentos, já pensa o próprio cinema com outras e maiores referências, mas é um filme que tinha que existir, ser no mundo, caminhar por ele mesmo depois de finalizado, estar pronto e disponível para quem nele esteve o alimentando durante tantos anos. Hoje, sinto que a história de realização do filme me mostra uma alongada história de vários encontros com muitos sonhadores, que se predispuseram a brincar a brincadeira de aprender a fazer um filme de ficção junto comigo.
             Gosto de pensar em como uma idéia surgida assim, quase sem noção da trabalheira que daria, conseguiu fazer parte do carinho e cuidado e suor de tanta gente. E "O pequeno" foi pra mim uma grande escola prática de realização cinematográfica, foi nele , em seu processo, que tive que lidar na marra com tantas técnicas de realização. O processo de realização de "O pequeno" é a minha referência pro depois, é de onde eu parti. Pra mim, O pequeno, além da história do roteiro, é um filme que conta uma história de encontros entre um grupo de sonhadores sem travas e, também, uma história de anos de aprendizado. Hoje já estou completamente em paz com este filme, fizemos as pazes, porque o entendo, o aceito de onde ele veio: lá de um mundo encantado. Hoje eu sei que é um filme cheio de maravilhas...
                E o que escondem aquelas árvores solitárias que ficam ilhadas em um mundo monocultor?

*Lembramos que após a pré-estréia do filme, em 2014, realizamos um projeto de financiamento colaborativo junto ao site/coletivo Cartase para conseguirmos recursos financeiros para a impressão do material gráfico e da duplicação dos DVDs do filme. Agradecemos imensamente os organizadores da plataforma Catarse (www.catarse.me) e às 17 pessoas que apoiaram e tornaram possível mais um pouco a caminha d'O pequeno. 


Luis Henrique Mioto



CRÍTICA E ENTREVISTA

O filme, com apenas 40 minutos de duração é descrito como uma ‘fábula cinematográfica’. Um filme que perambula sutilmente pelos sonhos e medos de cada um que entra em contato com a sua história, valorizando um sabor assombroso de toda procura e descoberta interna e, também, um sabor cálido da alegria que vem quando um universo mágico se revela. Há um jovem protagonista, que caminha por lugares, conversa com desconhecidos (E depois conhecidos) motivado por uma busca para salvar sua planta… Em sua ‘saga’ o protagonista passeia por estradas, grandes plantações e até casas rurais de madeira. Há alguns fatos com certo ‘elemento surpresa’ na trama mas que apenas realçam o certo lirismo e poética presente na obra.
O personagem envolto em seus próprios dilemas acaba encontrando outras figuras que possuem também, por sua vez, outros dilemas. Desse encontro ocorre a trama minimalista que permite várias leituras ou interpretações da trama… “Chegou num ponto em que pensei que ‘Até que ele é bom’, mas, a incerteza sobre ele é constante ainda. Até hoje não consegui fazer algo que eu considere acabado total, algo que eu ache muito bom…”, contou o diretor à reportagem do RubroSom. Segundo ele há outras referências no filme como cinema iraniano e até diretores que mesclam a coisa do documentário com a ficção. O tempo de gestação e criação do projeto até remete a produções como Boyhood (Richard Linklater) gravado ao longo de 12 anos com o mesmo elenco, no entanto, aqui o processo foi meio acidental, inclusive, contando com agentes externos que influenciaram o processo. “Um casal de amigos meus leu o roteiro e me instigou a retomá-lo, em uma época na qual já tinha parado de mexer com o filme” enfatizou Mioto.
O produtor, acostumado a mexer com documentários iniciou assim um feliz primeiro passo no gênero da ficção, embora para ele, as duas linguagens caminhem próximas. Confira uma entrevista com o diretor Luis Mioto:
Tem referências meio notáveis no filme (O Pequeno príncipe) o que mais você pode falar de referências que tiveram no seu filme?Essa é uma referência importante sim… Assistindo ele hoje novamente acho que o Jodorowsky está no filme também. Tem também uma referência do iraniano Abbas Kiarostami (diretor do filme ‘Onde Fica a Casa do Meu amigo?”, alguns autores russos… Tentei ser o mais ‘cult’ possível (risos).
Você falou sobre o (longo) processo de parar e recuperar o filme várias vezes, a coisa do entusiasmo com o projeto, da euforia… imagino que seja difícil manter isso aceso ao longo do processo todo?É sim… foi um pouco mais de oito anos no processo. Eu comecei filmando com um tipo de Luis, e terminei ele como outro tipo de Luis, e esse processo foi muito dolorido, envolveu sofrimento, no sentido de que, eu sempre busquei que fosse verdadeiro né? Essa estreia, essa apresentação, esse momento, e que fizesse sentido. No processo caiu o sentido, recuperei o sentido é um processo de idas e voltas… É um processo ‘Por bem ou por mal’ de ficar hoje na cadeira assistindo o filme, assisti de novo. Chegou num ponto em que pensei que ‘Até que ele é bom’, mas, a incerteza sobre ele é constante ainda. Até hoje não consegui fazer algo que eu considere acabado total, algo que eu ache muito bom… Já fiz alguns filmes, mas, não chegou num ponto ainda de falar que está ‘completo’, este processo pode ocorrer ou não, mas é o que faz continuar e seguir…  Sempre acreditando que tem o que melhorar e o que crescer ainda…
O processo levou anos, foram então quatro ‘eras’ de filmagens diferentes?Isso, começamos em 2008 quando fiz o roteiro… Tentamos filmar de uma maneira bem rudimentar, com uma câmera emprestada da UEL… Não deu muito certo, estávamos muito despreparados em relação à produção. Voltamos em 2011, um casal de amigos meus leu o roteiro e me instigaram a retomá-lo, mexer com ele… Era algo até que eu tinha abandonado. Ai voltamos e filmamos… Teve também um momento posterior de edição, de fechamento. O filme só foi concluído também devido ao vínculo que criei com Joãozinho (Que no filme interpreta o protagonista). Eu queria que ele visse o filme pronto, como ele gostou do personagem…
Muita gente elogiou o trabalho, falou bem do conjunto todo… Podemos dizer que houve uma boa recepção então?Muitas pessoas acharam legal sim, mas não tivemos uma conversa ainda no sentido profundo, continua uma incógnita ainda, como é o olhar de outras pessoas sobre essa produção. Ajuda muito a observar a própria obra… Falta um pouco em Londrina a coisa da crítica, algo mais aprofundado. O filme não é uma mercadoria, acho que falta essa coisa da reflexão, espero que o pessoal encare isso de uma maneira sensibilizadora, seja ela qual for, eu preciso de conversas de impressões sobre o filme…
Você teve bastantes experiências com documentários, registros, agora fez esse trabalho de ficção… Agora você se sente mais disposto a pensar em novas ficções?Acho que a ficção e documentário são muito próximas, é difícil achar esse limite entre um e outro… A ficção que eu faço flerta muito com o limite do documentário. Todo documentário tem uma direção, roteiro, tem uma coisa forte de ficção ali. Tem muita poesia, todo documentário é ficcional… Tenho me interessado muito por diretores que assumem essa mescla, o próprio Kiarostami, tem um diretor português Pedro Costa (Que faz isso)… Tenho gostado de flertar com isso por enquanto. To num momento de procurar o próprio caminho, as vezes escrevo algo e não gosto, acho que estou no caminho, mas não sei se agora é um momento.
Você jogou um pouco essa provocação para o público, queria que você comentasse sobre… Porque continuar fazendo filmes?Acho que a gente tem que sensibilizar pessoas, esse é o serviço do artista, a arte sensibiliza esses canais de carinho e amor, de reconhecimento de si próprio… A arte desentope essa ‘saturação’ que muitas pessoas sentem hoje. Eu faço muito, nos meus filmes, para conhecer pessoas, eu me vejo muito em lugares onde eu não estaria se eu não estivesse com uma câmera. Entro na casa de pessoas que tem receio, sentem medo, a pessoa abre a casa, se abre pra mim em níveis nos quais ela não se abriria no primeiro encontro… O fato de eu estar fazendo um documentário faz a pessoa revelar coisas que só revelaria para um amigo de infância. Essa é a poesia dos detalhes, como um senhor senta na cadeira, como uma mulher vive em casa, a gente observa essa coisa da poesia do mundo… Gosto mais de pessoas do que de cinema (risos)… Mas acho que é isso, cinema serve tanto para pessoas do lado de lá, que é atingida como de quem faz isso. Do lado de lá da “seta” que atinge, como da pessoa que criou essa seta… Eu aprendo a esculpir a seta para sensibilizar você e você aprende com essa seta recebida, e eu aprendi com pessoas que me sensibilizaram. Cinema não é só o filme, é um encontro, é uma pessoa que assiste, a pessoa que liga as luzes, a sala escura… Cinema é tudo isso. Todo mundo faz cinema.